Ministro da Saúde diz que Brasil perdeu guerra contra doença transmitida por mosquito
Número de casos no país nos primeiros nove meses de 2007 já é praticamente 50% superior ao registrado no mesmo período de 2006. Notificações subiram em todas as regiões. Ministro reconhece epidemia
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, admitiu ontem que a dengue está “dando uma surra” no país em 2007 e já virou uma epidemia. Ao lançar, em Belo Horizonte, uma campanha nacional de mobilização contra a doença, Temporão revelou a dimensão do avanço do número de casos nos primeiros nove meses de 2007, em relação ao mesmo período do ano passado: os infectados registrados em todo o país saltaram de 321,3 mil para 481,3 mil, um crescimento de 49,77%. Ainda mais preocupante: os dados tendem a piorar no verão, estação de chuvas em boa parte do Brasil, o que colabora para a proliferação do mosquito transmissor, o Aedes aegypti.
O número de notificações cresceu em todas as regiões do país. Em apenas nove estados houve diminuição de casos. Os dados do Ministério da Saúde mostram que 1.076 pessoas contraíram a dengue hemorrágica, forma mais grave da doença, principalmente nos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Maranhão. O próprio ministro classificou como “injustificável” e “inadmissível” o número de 121 mortes registradas nos primeiros nove meses deste ano. Segundo Temporão, o alto índice de óbitos significa deficiência no atendimento à forma hemorrágica.
Na comparação com 2006, a Região Sul foi a que apresentou maior crescimento - superlativos 828,16 % -, seguida pelo Centro-Oeste (99,95%), Norte (31,34%), Nordeste (30,43%) e Sudeste (19,81%). No Sudeste, o crescimento do número de casos foi puxado pelos estados do Rio de Janeiro (75,64%) e São Paulo (20,75%) - com um total de 64.310 notificações até setembro, contra 53.259 no mesmo período do ano passado. Minas e Espírito Santo apresentaram resultado negativo, -5,22% e -27,92%, respectivamente.
“É uma epidemia e essa epidemia é preocupante”, disse Temporão, citando a dificuldade de se combater o mosquito transmissor Aedes aegypti e o vírus por causa da variedade de sorotipos, o que “coloca obstáculos” ao desenvolvimento de uma vacina. “Infelizmente, essa vacina não está no horizonte próximo”, reconheceu o ministro, que antes de lançar a campanha se reuniu com especialistas em Belo Horizonte.
Temporão chamou a atenção também para a capacidade de transmissão do mosquito. Por isso, a preocupação mais imediata, salientou, é tentar zerar o número de mortes. “O índice que nós alcançamos é inadmissível, o que demonstra um problema de atendimento, uma fragilidade da organização do sistema de saúde”, admitiu. O ministro anunciou iniciativas como a distribuição de um caderno de atenção básica com informações sobre a dengue para todas as equipes do Saúde da Família e uma parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Medicina (CRM) para o envio de 300 mil CD-ROMs aos médicos do país.
“Chamando a atenção para a gravidade da doença, para a abordagem clínica, a situação epidemiológica, sinais e sintomas, abordagem terapêutica. É um processo de educação continuada em que todos os médicos, independentemente de suas especialidades, receberão em sua residência esse material”.
Dever da sociedade
Com o tema “Combater a dengue é um dever meu, seu e de todos. A dengue pode matar”, a campanha deste ano será veiculada de forma regionalizada, com jingles em ritmos diferenciados - samba, hip-hop, forró, entre outros. A campanha começa nas rádios e TVs do Sudeste e Centro-Oeste e vai até o dia 24 de novembro. Nas regiões Sul e Norte, será veiculada de 4 de novembro a 16 de dezembro. No Nordeste, passará até março de 2008.
Temporão pregou mobilização e cobrou “postura obsessiva” da população nos procedimentos cotidianos de combate à doença, como eliminar locais de água parada, colocar areia nos vasos de planta, cobrir bem tonéis e caixas d’água, entre outros. O ministro também criticou o que chamou de passividade em relação à doença, seja dos populares ou mesmo dos agentes de saúde. “A população tem uma boa informação, mas ela fica esperando que alguém resolva o problema para ela”, disse, avaliando que o problema também está no agente de saúde, que “orienta pouco, ensina pouco”. “A postura tinha de ser mais pedagógica”, sustentou.
Correio Brasiliense
17/10/01
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