segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Rio registra primeiro caso de superbactéria
  Clarissa Thomé
No Rio de Janeiro
              


O Rio de Janeiro registrou os primeiros casos de contaminação por bactérias modificadas pelo gene NDM-1. Essas superbactérias anulam os efeitos de antibióticos, inclusive aqueles que são mais utilizados para combater infecções por micro-organismos multirresistentes. Os casos foram registrados na pediatria do HemoRio, instituição de referência para tratamento de pacientes com doenças do sangue, e em hospitais de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, e em Duque de Caxias, na Baixada. Nenhum paciente morreu.
O Rio de Janeiro foi o segundo Estado do país a identificar a superbactéria. O Rio Grande do Sul teve cinco casos divulgados em maio.

A primeira pessoa do Rio de Janeiro a ser identificada com a superbactéria foi uma menina, que trata uma leucemia no HemoRio. Ela já havia recebido alta e depois de um mês de internação foi encaminhada para colocação de um cateter no Hospital da Criança. Lá, foi submetida ao exame de rotina para identificar possível infecção. O resultado deu positivo.

A menina não chegou a desenvolver a infecção. O hospital procurou outras crianças que entraram em contato com a paciente. Também fechou leitos para permitir o isolamento daqueles que estavam internados e a desinfecção das enfermarias. Ainda há pacientes em isolamento, mas não foram diagnosticados novos casos.

O superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Secretaria Estadual de Saúde, Alexandre Chieppe, esclareceu que nenhum dos pacientes identificados no Rio adoeceu. "Não foram casos de infecção. As pessoas foram colonizadas pela bactéria com mecanismo de resistência mais amplo. Não há indicação para interromper a rotina do funcionamento dos hospitais", afirmou Chieppe. Ele ressaltou que foram colocados em ação planos para conter a infecção, com intensificação da limpeza de ambientes.

O infectologista Alberto Chebabo, chefe do serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que a infecção por superbactéria pode ser grave para pacientes com baixa imunidade, que estão em longas internações. "A bactéria se torna resistente a vários antibióticos. São poucas as opções de tratamento". Ele ressalta que o controle é muito difícil. "É importante evitar a superlotação, melhorar a higienização das mãos e a vigilância de bactérias. Agora vamos ter que saber se ela vai se adaptar e ficar permanentemente no Brasil, se vai se espalhar ou se serão casos esporádicos".

As superbactérias aparecem a partir de uma mutação genética. Bactérias que já estão presentes no organismo, como a E. Coli, sofrem a modificação e passam a produzir enzimas que anulam o efeito do antibiótico. NDM-1 é a sigla pela qual é conhecida a enzima que torna a bactéria multirresistente. Significa "New Delhi Metallobetalactamase". O primeiro caso foi registrado em Nova Délhi, na Índia, em um paciente sueco, em 2009. Superbactérias com essa mutação foram identificadas nos Estados Unidos, Canadá, países da Europa e da América Latina.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Bactérias resistentes ameaçam mais que aquecimento global, dizem especialistas


Chefe de Saúde da Inglaterra alerta para cenário 'apocalíptico' pela crescente ineficiência de remédios contra infecções

BBC
25/01/2013 09:32:41


Getty Images

E.coli: bactéria serviu de base para construção de possível arma contra infecções em hospitais

O aumento de infecções resistentes a medicamentos é comparável à ameaça do aquecimento global, de acordo com a principal autoridade de Saúde da Inglaterra. Sally Davies, chefe do serviço médico civil da Inglaterra, disse que as bactérias foram se tornando resistentes às drogas atuais e há poucos antibióticos para substituí-las.

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Ela disse a uma comissão de deputados britânicos que uma operação de rotina pode se tornar letal devido à ameaça de infecção. Especialistas disseram que este é uma problema global e que precisa de mais atenção.



Os antibióticos são uma das maiores histórias de sucesso na medicina. No entanto, as bactérias são um inimigo que se adapta rapidamente e encontra novas maneiras de burlar as drogas.



Um dos exemplos desta ameaça é o Staphylococcus aureus resistente à meticilina - ou SARM (também conhecido pela sigla em inglês MRSA — Methicillin-resistant Staphylococcus aureus ) -, uma bactéria que rapidamente se tornou uma das palavras mais temidas nas enfermarias de hospitais, e há também crescentes relatos de resistência em cepas de E. coli, tuberculose e gonorreia.



'Cenário apocalíptico'



Davies disse: "É possível que a gente jamais veja o aquecimento global acontecer, então o cenário apocalíptico é quando eu precisar operar meu quadril daqui a em 20 anos e for morrer de uma infecção de rotina, porque os antibióticos não funcionam mais."



Ela disse que só um único antibiótico sobrou para tratar a gonorreia. "É muito grave, e é muito grave porque nós não estamos usando nossos antibióticos de forma efetiva".



"Não há um modelo de mercado para fazer novos antibióticos, de modo que estas bactérias se tornaram resistentes, o que ocorreria naturalmente, mas estamos estimulando isso pela forma com que antibióticos são usados, e não haverá novos antibióticos adiante."



Arsenal vazio



O alerta feito pela especialista no Parlamento britânico ecoa avisos semelhantes feitos pela Organização Mundial de Saúde, que disse que o mundo está caminhando para uma "era pós-antibióticos", a menos que sejam tomadas medidas.



A entidade projeta um futuro no qual "muitas infecções comuns não terão mais uma cura e, mais uma vez, matarão incessantemente". O professor Hugh Pennington, microbiologista da Universidade de Aberdeen, disse que a resistência a drogas é "um problema muito, muito sério".



"Precisamos prestar mais atenção a ele. Precisamos de recursos para monitoramento, para lidar com o problema e para fazer informações públicas circularem adequadamente." Ele sublinhou que este não era um problema exclusivo da Grã Bretanha.



"As pessoas estão indo para o exterior para operações, ou para, vamos dizer, fazer turismo sexual e trazer para cá gonorreia, que é um grande problema em termos de resistência a antibióticos - e também há tuberculose em muitas partes do mundo.



Pennington disse que as empresas fabricantes estavam sem opções também, porque todas as drogas mais simples já haviam sido produzidas. "Temos de estar cientes de que não vamos ter novos remédios milagrosos, porque simplesmente não há novos remédios".